A Lebre e o Porco-Espinho
Por: Redacção
Por: Redacção
Para esperto, esperto e meio. Mas, como mostra esta
fábula da Costa do Marfim, a esperteza tem o seu preço. E, ao entrar no jogo de
enganar o próximo, há que contar sempre com uma resposta à altura.
Durante uma
tremenda carestia, o Porco-Espinho e a Lebre puseram-se juntos a caminho em
busca de comida. Ao chegarem à primeira aldeia, combinaram que ele continuaria
a chamar-se Porco-Espinho e ela Estrangeiro. Bateram à porta do chefe,
que os recebeu hospitaleiramente. E disse à esposa para lhes arranjar de comer.
Pouco
depois, a mulher trouxe uma bacia de comida dizendo:
–
Estrangeiros, aqui têm a comida.
Ambos se
precipitaram sobre a vasilha, mas a Lebre disse ao Porco-Espinho:
– Calma, amigo!
Se bem entendi, a comida era para o Estrangeiro, que sou eu, pois tu chamas-te
Porco-Espinho.
O pobre do
animal lá ficou de barriga vazia. Entretanto, caiu a noite. Como tinha muita
fome, resolveu ir à procura de comida nos campos em redor. Mas, primeiro, tirou
a sua roupa e vestiu a da Lebre, que adormecera de barriga cheia. Comeu tudo o
que encontrou: inhame, batatas, cenouras...
No dia
seguinte, os habitantes ficaram estarrecidos ao ver os seus campos todos
revolvidos e foram ter com o chefe dizendo:
– Foram os
estrangeiros que acolheste que nos deram cabo das hortas.
O chefe
mandou que viessem à sua presença e disse-lhes furioso:
–
Estrangeiros, aqui não há ladrões. Portanto só podeis ter sido vós a destruir
tudo.
A Lebre
olhou para o Porco-Espinho, que se dirigiu à multidão dizendo:
– Se bem
entendi, o chefe disse que foram os estrangeiros os culpados. Ora, eu sou o
Porco-Espinho. Só pode ter sido o Estrangeiro (e apontou a Lebre), porque a
minha roupa está limpa e a dele está toda suja de terra.
Perguntaram,
então, ao Porco-Espinho que castigo se haveria de dar à Lebre e ele respondeu:
– Umas 40
palmadas no rabo devem chegar – respondeu.
Mas a Lebre
não se ficou e retorquiu:
– Senhor
chefe, eu não saí de casa a noite inteira, porque comi muito bem. Se não
acredita em mim, faça-nos vomitar a comida e verá que tenho razão.
Então o
chefe mandou dar-lhes uma poção amarga e ambos vomitaram o que tinham comido: a
Lebre a comida preparada pela esposa do chefe e o Porco-Espinho o inhame, as
batas e as cenouras.
A Lebre
tinha razão. Perguntaram-lhe então que castigo se daria ao companheiro:
– Uns 80
açoites devem bastar – respondeu.
Açoitaram-no
e expulsaram-nos da aldeia. O Porco-Espinho saiu à frente da Lebre e chegou a
uma aldeia de ferreiros, a quem disse:
– Vem ali
atrás um criado meu, com dois abanadores à cabeça. São para vós, para abanardes
as brasas na forja. E prosseguiu caminho.
Logo que a
Lebre chegou, atiraram-se a ela e cortaram-lhe as orelhas. Esta, furibunda,
deitou a correr atrás do Porco-Espinho, passou-lhe à frente e encontrou um
grupo de caçadores, a quem disse:
– Está a
chegar um criado meu com um carrego de setas às costas. São para vós,
tirem-lhas!
E eles assim
fizeram. A Lebre morria de riso ao ouvir os gritos do companheiro. Era a sua vingança.
Mas o Porco-Espinho ainda não dissera a última palavra. Deitou novamente a
correr, passou à frente da Lebre, encontrou um grupo de caçadores com cães e
gritou-lhes:
– Caçadores,
não façam barulho, porque ali atrás vem caça grossa! Ides ter comida para mais
de uma semana!
Os caçadores
ficaram de atalaia e quando a Lebre apareceu, atiçaram-lhe os cães. Mas ela,
espertalhona, fintava-os bem, enquanto ia dizendo de si para si, pensando no
Porco-Espinho: «Enquanto não tiveres atravessado o rio, não insultes o jacaré!»
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