As sete estrelas da Ursa Maior
A bondade, por muito que se queira
esconder, há-de sempre vir ao de cima. Como nesta fábula que os naturais da
Coreia contam sobre uma velhinha e os seus filhos.
Há muitos,
muitos anos, havia uma viúva velhinha que morava com os seus sete filhos numa
zona rural a leste de Seul (Coreia do Sul), nas margens de uma ribeira. Os
filhos adoravam a mãe.
Antes de o
Inverno chegar, os filhos costumavam ir todos os anos à serra ali em frente
cortar lenha para manter a fogueira acesa na loja por debaixo da casa. Pensavam
que o chão assim quentinho pudesse permitir à velha mãe dormir uns bons
sonos.
Mas, apesar de
todos estes esforços, a mãe tinha sempre frio e o seu rosto macilento toldava-se
de uma profunda, inexplicável tristeza. Quanto mais os jovens deitavam lenha no
lume, mais e velha mãe parecia ter frio. Até mesmo durante o Verão, quando fazia
muito calor lá fora, a mãe tremia de frio.
Certa noite, o
filho mais velho, acordou de repente com uma estranha sensação. Levantou-se e
foi ver como estava a mãe, mas o quarto dela estava vazio. Bastante preocupado,
o jovem voltou para a cama e fingiu dormir; mas, na realidade, os seus ouvidos
estavam atentos ao mais pequeno ruído de passos.
Eis senão
quando, pouco antes do amanhecer, a mãe regressou a casa, caminhando de mansinho
para não acordar os filhos.
Na noite
seguinte, quando a mãe saiu de casa com um saco na mão, o filho mais velho
seguiu-a de longe, curioso de saber para onde ela ia. Em pleno Inverno , a
natureza em redor parecia morta.
Ao chegar às
últimas casas da aldeia na margem da ribeira, a mulher levantou um pouco as
saias e começou a atravessar as águas geladas em direcção à margem oposta,
enquanto se ia lamentando: «Meu Deus, que gelada que está! Que frio! Que
frio!»
Aí chegada,
deteve-se em frente de uma cabana em ruínas e, batendo à porta, começou a dizer
baixinho: «Pai, pai, abre!»
Apareceu então
à porta um velhinho, que a convidou a entrar. Era um pobre ancião viúvo, muito
conhecido nas redondezas, que ganhava uns cobres, que mal lhe davam para
sobreviver, fazendo cestas de vimes.
O jovem
compreendeu então os sentimentos do nobre coração da mãe. Regressou rapidamente
a casa, acordou os irmãos e, juntos, começaram a levar para a ribeira grandes
pedregulhos, para fazerem uma passadeira, a fim de que a mãe pudesse
atravessá-la sem molhar os pés. Depois regressaram a casa e, deitando-se nas
esteiras, adormeceram como se nada tivesse acontecido.
Quando a velha
mãe saiu da cabana para regressar a casa, reparou naqueles pedregulhos, que
nunca tinha visto ali. Mas nunca imaginou que fossem os filhos a levá-los para
lá.
A velhinha
sentiu nascer-lhe no coração uma profunda gratidão e rezou assim: «Deuses do
céu, fazei com que aqueles que esta obra executaram tenham a dita de se tornarem
as sete estrelas do Norte!»
Como
recompensa da sua bondade, os sete amorosos filhos, quando morreram, foram sendo
transformados pelos deuses nas sete estrelas da Ursa Maior, constelação que no
Ocidente indica o Norte.
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