A inveja do rei
Por: PAOLO VALENTE
Por: PAOLO VALENTE
Ter inveja daquilo que os outros têm é uma
tentação universal… como universal é a lição: quem se deixa dominar por ela,
não encontra o que procura mas acrescenta sofrimento aos dissabores que já tem.
Uma grande carestia afligia a aldeia: ninguém tinha
que comer e só um milagre poderia salvar os seus habitantes. Bani não se
resignava e cada dia saía de casa à procura de alimento na floresta. Mas o
calor tinha secado tudo e era cada vez mais difícil encontrar algo que comer.
Um dia, já de regresso à aldeia de mãos vazias, encontrou entre os espinhos uma
cabaça de forma alongada. Quando parou e olhou para ela, ouviu uma voz: «Onde vais,
sozinho pela floresta?»
Olhou em redor, mas não viu ninguém. Era mesmo a
cabaça que lhe falava! Encheu-se de coragem e explicou-lhe que procurava
alimento para ele e a família. Ela respondeu-lhe: «Hoje ganhaste o dia: tira-me
destes espinhos e pergunta-me o que sou capaz de fazer por ti.» Bani não se fez
repetir a ordem, recolheu a cabaça e limpou-a com as mãos, perguntando-lhe:
«Cabaça da forma alongada, que sabes tu fazer por mim?» A cabaça começou a
vibrar com força e a dizer: «Dou-te papas, dou-te papas!» E imitou o gesto que
se faz quando se tiram as papas de milho da panela. E o bonito foi que Bani se
encontrou com um prato de papas, que comeu até se saciar, tal era a fome que
sentia. Depois de comer, a cabaça disse-lhe: «Leva-me contigo e farás feliz a
tua família.»
Bani levou a cabaça debaixo do braço e guardou-a na
sua cabana. E com ela, quando chegou a noite, deu de comer à sua família. Bani
tinha um irmão, de nome Sani e língua cumprida. Comeu também a sua porção de
papas, mas de manhã cedo foi logo dizer ao rei o segredo da cabaça. E o rei, de
imediato, mandou chamar Bani. «Ouvi dizer que encontraste uma cabaça que trouxe
a felicidade à tua família», disse-lhe o rei, perguntando de que se tratava.
Bani contou-lhe a história e mostrou-lhe a cabaça.
O rei fez como Bani lhe contou e perguntou: «Cabaça da
forma alongada, que sabes fazer por mim?» Ela respondeu: «Sei dar-te papas!» E
de novo, também o rei se encontrou com um belo prato de papas, que comeu com
gosto. Mas, para surpresa de Bani, em vez de lhe devolver a cabaça, ficou com
ela dizendo: «Trata-se de um assunto que, claramente, diz respeito ao rei,
guardar a cabaça.»
Bani ficou furioso e na manhã seguinte não teve outro
remédio senão voltar à floresta à procura de alimento. Teve outra surpresa. Viu
outra cabaça, de forma diferente, muito mais comprida, que parecia um tubo, um
bastão comprido, um grande cacete. «Aonde vais sozinho e zangado?»,
perguntou-lhe a cabaça. E Bani contou-lhe a história: «Encontrei uma cabaça
capaz de dar de comer a toda a minha família e à aldeia, mas o rei tirou-ma e
ficou com ela.» A cabaça disse-lhe de novo: «Pergunta-me o que posso fazer por
ti.» Ele obedeceu-lhe e ela, agitando-se ameaçadoramente respondeu: «Bater-te,
bater-te!» Bani ficou meio atordoado com a pancada, mas depois pensou: «Conheço
alguém a quem esta cabaça vai dar uma lição!»
Levou a cabaça debaixo do braço e foi apresentar-se ao
rei, dizendo-lhe que tinha encontrado uma cabaça ainda mais prodigiosa que a
outra. O rei nem esperou por mais explicações e fez a pergunta: «Cabaça da
forma de bastão, que sabes fazer pelo rei da aldeia?» A cabaça começou a
agitar-se ameaçadoramente e golpear o rei na cabeça, sem parar. O rei gritava
de medo e de dor e apanhou uma valente sova, antes que o filho e os servos
conseguissem dominar a cabaça. Depois retirou-se nos seus aposentos, sem contar
a história a ninguém.
Desde então na aldeia todos sabem que não é bonito ter
inveja daquilo que os outros têm e que não convém a ninguém, nem ao rei,
deixar-se dominar pela inveja. Quando se é invejoso pode acontecer que se
procure papas de milho e arroz e se encontre lágrimas e sofrimento.
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