textosintegrais@gmail.com


Sei que há muita gente que consulta este blogue e utiliza os materiais aqui publicados, mas poucos deixam comentários e eu gostava mesmo de saber a vossa opinião... :-) textosintegrais@gmail.com

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Fábula do Benim


A inveja do rei
Por: PAOLO VALENTE

(fábula do Benim)


      Ter inveja daquilo que os outros têm é uma tentação universal… como universal é a lição: quem se deixa dominar por ela, não encontra o que procura mas acrescenta sofrimento aos dissabores que já tem.



Uma grande carestia afligia a aldeia: ninguém tinha que comer e só um milagre poderia salvar os seus habitantes. Bani não se resignava e cada dia saía de casa à procura de alimento na floresta. Mas o calor tinha secado tudo e era cada vez mais difícil encontrar algo que comer. Um dia, já de regresso à aldeia de mãos vazias, encontrou entre os espinhos uma cabaça de forma alongada. Quando parou e olhou para ela, ouviu uma voz: «Onde vais, sozinho pela floresta?»

Olhou em redor, mas não viu ninguém. Era mesmo a cabaça que lhe falava! Encheu-se de coragem e explicou-lhe que procurava alimento para ele e a família. Ela respondeu-lhe: «Hoje ganhaste o dia: tira-me destes espinhos e pergunta-me o que sou capaz de fazer por ti.» Bani não se fez repetir a ordem, recolheu a cabaça e limpou-a com as mãos, perguntando-lhe: «Cabaça da forma alongada, que sabes tu fazer por mim?» A cabaça começou a vibrar com força e a dizer: «Dou-te papas, dou-te papas!» E imitou o gesto que se faz quando se tiram as papas de milho da panela. E o bonito foi que Bani se encontrou com um prato de papas, que comeu até se saciar, tal era a fome que sentia. Depois de comer, a cabaça disse-lhe: «Leva-me contigo e farás feliz a tua família.»

Bani levou a cabaça debaixo do braço e guardou-a na sua cabana. E com ela, quando chegou a noite, deu de comer à sua família. Bani tinha um irmão, de nome Sani e língua cumprida. Comeu também a sua porção de papas, mas de manhã cedo foi logo dizer ao rei o segredo da cabaça. E o rei, de imediato, mandou chamar Bani. «Ouvi dizer que encontraste uma cabaça que trouxe a felicidade à tua família», disse-lhe o rei, perguntando de que se tratava. Bani contou-lhe a história e mostrou-lhe a cabaça.

O rei fez como Bani lhe contou e perguntou: «Cabaça da forma alongada, que sabes fazer por mim?» Ela respondeu: «Sei dar-te papas!» E de novo, também o rei se encontrou com um belo prato de papas, que comeu com gosto. Mas, para surpresa de Bani, em vez de lhe devolver a cabaça, ficou com ela dizendo: «Trata-se de um assunto que, claramente, diz respeito ao rei, guardar a cabaça.»

Bani ficou furioso e na manhã seguinte não teve outro remédio senão voltar à floresta à procura de alimento. Teve outra surpresa. Viu outra cabaça, de forma diferente, muito mais comprida, que parecia um tubo, um bastão comprido, um grande cacete. «Aonde vais sozinho e zangado?», perguntou-lhe a cabaça. E Bani contou-lhe a história: «Encontrei uma cabaça capaz de dar de comer a toda a minha família e à aldeia, mas o rei tirou-ma e ficou com ela.» A cabaça disse-lhe de novo: «Pergunta-me o que posso fazer por ti.» Ele obedeceu-lhe e ela, agitando-se ameaçadoramente respondeu: «Bater-te, bater-te!» Bani ficou meio atordoado com a pancada, mas depois pensou: «Conheço alguém a quem esta cabaça vai dar uma lição!»

Levou a cabaça debaixo do braço e foi apresentar-se ao rei, dizendo-lhe que tinha encontrado uma cabaça ainda mais prodigiosa que a outra. O rei nem esperou por mais explicações e fez a pergunta: «Cabaça da forma de bastão, que sabes fazer pelo rei da aldeia?» A cabaça começou a agitar-se ameaçadoramente e golpear o rei na cabeça, sem parar. O rei gritava de medo e de dor e apanhou uma valente sova, antes que o filho e os servos conseguissem dominar a cabaça. Depois retirou-se nos seus aposentos, sem contar a história a ninguém.

Desde então na aldeia todos sabem que não é bonito ter inveja daquilo que os outros têm e que não convém a ninguém, nem ao rei, deixar-se dominar pela inveja. Quando se é invejoso pode acontecer que se procure papas de milho e arroz e se encontre lágrimas e sofrimento.

http://www.alem-mar.org

Sem comentários:

Enviar um comentário