O tecido, o ferro e a prata
Por: PAOLO VALENTE
Por: PAOLO VALENTE
O tecido, o
ferro e a prata Desde sempre homens e mulheres dão valor aos objectos
materiais. Mas nem todos resistem à erosão do tempo. Os que resistem recebem o
seu valor das relações e dos afectos que tecem a vida, a começar pela
fidelidade.
Na aldeia havia uma mulher que tinha três filhos. O
mais velho chamava-se Tecido, o segundo chamava-se Ferro e o filho mais novo
Prata. Viviam felizes com a mãe na aldeia, no meio da floresta. Mas, um dia,
uma grande carestia assolou a região, havia pouco que comer e a água
escasseava. Os três filhos viram-se forçados a abandonar a casa materna para
sobreviver noutros lugares. Antes de partirem, despediram-se da mãe e juraram
não a esquecer e voltar para a levar com eles se conseguissem ter sorte.
Passaram-se dias, meses e anos. Os três filhos
conseguiram sobreviver e ter êxito na vida. Tornaram-se reis nas aldeias onde
se estabeleceram. Mas na luta pela sobrevivência e com o passar do tempo
esqueceram-se da mãe. A pobre mulher sobreviveu como pôde, consumida pelas
preocupações do dia-a-dia e pela velhice. Passava horas sentada à porta da sua
cabana, à espera que algum dos filhos chegasse. Como não tinha quem a ajudasse,
foi descuidando o seu aspecto: os seus vestidos gastaram-se e parecia uma
pessoa abandonada por todos. Na sua pobreza, porém, não deixou morrer em si o
desejo de voltar a ver os filhos. Um dia decidiu deixar a aldeia e pôr-se a
caminho à sua procura. Vê-los, beijá-los antes de morrer, era o seu único
desejo.
Chegou, assim, à aldeia onde Tecido se tinha tornado
rei. Pediu informações do filho, que, segundo ouvira, se tinha tornado rei da
localidade. Ao ver o seu aspecto, a gente não acreditou nela e queria impedi-la
de chegar à cabana real. Afirmando ser sua mãe, finalmente, conseguiu chegar à
presença do rei. Mas a sua desilusão foi grande. O jovem soberano, em vez de se
levantar e a abraçar, mandou expulsá-la e pô-la fora da porta. Com o aspecto
miserável com que estava, as roupas a desfazerem-se, o seu filho Tecido não a
reconheceu. «Uma tal megera não pode ser minha mãe», disse com arrogância.
A mãe, ao sair da aldeia, amaldiçoou-o: «Honrar-te-ão
enquanto pareceres bonito… mas acabarás remendado no monte do lixo!» E
continuou o seu caminho à procura da aldeia onde Ferro era rei. A cena
repetiu-se e a mãe, ignorada pelo filho Ferro, pronunciou entre lágrimas a sua
maldição: «Na tua riqueza esqueceste a tua mãe. Os homens dão-te valor agora,
mas acabarás os teus dias velho e ferrugento abandonado no monte do lixo.»
Com as forças de que dispunha ainda conseguiu ir até à
aldeia onde o filho Prata era rei. Teve de lutar para convencer as pessoas de
que era a mãe do rei e a deixassem chegar à sua presença. Mas o sonho dela
realizou-se. O filho Prata, ao vê-la chegar, correu ao seu encontro e
abraçou-a, sem olhar à sujidade em que ela se encontrava e à sua aparência
pobre. Chamou as servas, que imediatamente tomaram cuidado dela, a lavaram e
vestiram convenientemente. Tão contente de a ver, o filho fê-la sentar a seu
lado.
A alegria da mãe foi tal que não resistiu à emoção...
Antes de morrer abençoou-o dizendo: «Prata, meu benjamim, tinhas-me esquecido,
mas agora reconheceste-me e remiste-te. Fizeste-me sair da miséria. Para ti vai
a minha bênção: os homens amar-te-ão com um amor sem par, farão tudo para te
possuir e nunca acabarás no lixo.» A mãe adormentou-se nos braços do filho e,
desde então, nunca se ouviu dizer que algum objecto de prata tenha sido
encontrado no monte do lixo, onde se encontram sempre tecidos usados e ferro
velho.
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