As três verdades de Guinda
Por: PAOLO VALENTE
Por: PAOLO VALENTE
O conto
transmite um ensinamento moral universal: a conveniência de dizer a verdade em
todas as circunstâncias, custe o que custar. O apego à verdade é sempre
garantia de liberdade.
Ninguém no mundo acreditaria se ouvisse dizer que uma
hiena poupou a vida de um bode. Mas foi isso que aconteceu, no tempo em que o
rei Pètépé decidiu dar em casamento a sua filha mais bonita. O rei fez tocar os
tantãs pela aldeia inteira, para congregar todos os pretendentes. Quando os
teve na sua presença, disse:
«Aquele que me
trouxer a mais bonita jóia do reino terá a mão da minha filha.»
Era um feito
praticamente impossível de conseguir. Para encontrar a jóia seria necessário
caminhar por sete dias e sete noites, subir montanhas, atravessar rios e
correntes. Porque só lá longe havia um ferreiro de reconhecida arte, que tinha
a sua forja. Mas, apesar disso, Guinda, o bode, aceitou o desafio. E disse a
todos os animais da aldeia que se poria a caminho à procura da jóia mais
bonita. Todos os animais abanaram a cabeça em sinal de desaprovação.
Preocupavam-se com a sua sorte e deram-lhe um conselho:
«Guinda, tu
sabes bem que Prouka, a hiena, se encontra no caminho da tua viagem e o vosso
encontro será fatal para ti. Nunca uma hiena poupou a vida a um bode… Deixa
estar, resigna-te à tua sorte ou acabarás por ter um fim desagradável.»
Guinda escutou
os conselhos dos outros animais, mas não desanimou. Amava demasiado a filha do
rei!
«Se é só isso
que me deve impedir», disse-lhes ele, «então farei a viagem.» E assim no dia
seguinte, apenas o primeiro canto dos galos se ouviu no ar fresco da manhã, ele
pôs-se a caminho para a aldeia do ferreiro. Depois de ter caminhado muito e de
se encontrar já muito distante da aldeia, ao atravessar uma floresta muito
densa o que os seus amigos animais previram aconteceu. De repente, encontrou-se
diante de Prouka, a hiena. O bode parou de repente, cheio de medo, e pensou que
nada tinha a fazer para escapar: nunca uma hiena tinha poupado a vida a um bode
que encontrou no seu caminho! Prouka, ao ver o bode diante de si, ficou tão
contente que deu alguns passos de dança.
«Quem te
mandou», perguntou ela enquanto se lambia os lábios. «Foi o rei Pètépé»,
respondeu-lhe Guinda, a tremer como uma folha.
«É o rei que
te manda?», retorquiu-lhe a hiena curiosa. Guinda repetiu que sim, sem entender
porque é que Prouka perdia tempo a conversar. Mas, de facto, Prouka não
mostrava ter pressa. Deu mais uma volta e disse, depois de ter pensado um
pouco:
«Então, bode,
se é verdade que te mandou o rei, diz-me três verdades e eu poupar-te-ei a
vida.»
«Três verdades?», perguntou surpreendido o bode.
«Sim»,
confirmou a hiena, «diz-me três verdades e deixar-te-ei prosseguir o teu
caminho.»
O bode pensou
por um pouco e disse-lhe: «Em primeiro lugar, eu sabia bem que o nosso encontro
me seria fatal, uma vez que nenhuma hiena poupa a vida de um bode quando o
encontra no seu caminho.»
«É verdade»,
confirmou Prouka. Guinda respirou fundo e continuou: «Em segundo lugar, ninguém
me acreditará se, de regresso à aldeia, eu contar que te encontrei e não
obstante isso continuo vivo.»
«Bravo»,
disse-lhe a hiena, «é verdade, ninguém te acreditará.» Guinda viu que a hiena
estava calma e divertida e esperava a terceira verdade. Encheu-se de coragem e
disse-lhe:
«A terceira
verdade é esta: ao vê-la e ouvi-la, senhora hiena, fico com a certeza de que
você não está com fome. Penso que comeu bem e no seu estômago não há lugar para
um bode forte como eu.» A estas palavras, Prouka abaixou as orelhas e coçou a
cabeça: o que Guinda lhe dizia era verdade e ela naquele momento não pode senão
admiti-lo e deixá-lo seguir o seu caminho. Guinda chegou à aldeia do ferreiro,
que na forja com ferro e fogo lhe fez a jóia mais bonita do reino. Ele fez o
caminho do regresso, durante sete dias e sete noites, para entregar a jóia ao
rei Pètépé que, para surpresa de todos os súbditos, lhe deu a mão da princesa.
É por isso
que, na aldeia, os anciãos dizem que é sempre melhor dizer a verdade, toda a
verdade, ao preço de qualquer sacrifício.
In revista Além-mar
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