As montanhas rivais
Um dia, Deus anunciou que tencionava escolher uma montanha inóspita, esguia e desértica para revelar a sua Lei. Quando as várias montanhas souberam da sua intenção, começaram a disputar a primazia para depois poderem gabar-se de terem sido o lugar da revelação.
Sabe-se que, primeiro, dirigiram umas às outras palavras duras e ásperos insultos. Depois, como se isso não bastasse, foram subindo de tom até optarem pelo confronto físico, empurrando-se, acotovelando-se e tentando magoar-se com gravidade.
As mais assanhadas nesta peleja eram as de Tabor e de Carmel. O diálogo entre ambas, enquanto se agrediam, não podia ser mais violento.
— Tu não tens grandeza nem beleza para receberes a palavra de Deus. És uma montanha mesquinha e triste e, por isso, Deus há-de votar-te ao esquecimento. Desaparece, pois, daqui! — gritou o Monte Tabor. E o Monte Carmel respondeu-lhe em termos semelhantes:
— Quem está a mais és tu. Deus não deseja a tua presença, pois o ato que vai praticar é tão importante que não pode compadecer-se com a tua pequenez e com a tua maldade. Vai-te, então, daqui embora, ou serei eu a expulsar-te.
Deus, que ultimava as Tábuas da Lei, ouvindo ecos da violenta discussão entre as duas montanhas, ordenou-lhes que se acalmasse e depois, falando para ambas, sentenciou:
— Não sei porque teimam em manter essa querela se o escolhido por mim não será nenhum de vocês e sim o Monte Sinai, que merece a minha confiança e respeito.
— Mas porquê, Senhor? — perguntaram os dois montes em uníssono, sem conseguirem esconder a deceção que a decisão divina lhes causara.
— É simples — esclareceu Deus.— Enquanto vocês acolheram durante muitos anos momentos de idolatria que eu sempre condenei, o Monte Sinai manteve-se puro e santo, afastando de si os idólatras e os ímpios. Foi por isso que o escolhi e não alterarei a minha decisão. Peço-vos agora para regressardes às vossas posições em silêncio, porque o momento é solene e eu estou cansado de ouvir as vossas ruidosas disputas.
E foi assim que o Monte Sinai foi escolhido por Deus para ser palco da revelação dos seus Mandamentos.
In José Jorge Letria, Lendas e Contos Judaicos
1. Qual é o recurso expressivo mais utilizado neste conto?
2. Faz a divisão e a classificação das orações presentes na primeira frase do texto.
2.1. Qual é a função sintática de “Um dia”?
3. Atenta na frase “Quando as várias montanhas souberam da sua intenção, começaram a disputar a primazia para depois poderem gabar-se de terem sido o lugar da revelação.”.
3.1. No complexo verbal “começaram a disputar” de que tipo é o verbo auxiliar?
a. Aspetual.
b. Modal.
c. Temporal.
d. Auxiliar da passiva.
3.2. Ainda no mesmo enunciado, o complexo verbal “terem sido” é composto por
a. verbo auxiliar modal + verbo principal.
b. verbo auxiliar dos tempos compostos + verbo principal.
c. verbo auxiliar temporal + verbo principal.
d. verbo auxiliar aspetual + verbo principal.
3.3. Em que tempo/modo verbal se encontram “poderem” e “terem”?
3.4. Qual é a função sintática de “o lugar da revelação.”?
4. Agora atenta no enunciado “Sabe-se que, primeiro, dirigiram umas às outras palavras duras e ásperos insultos. Depois, como se isso não bastasse, foram subindo de tom até optarem pelo confronto físico, empurrando-se, acotovelando-se e tentando magoar-se com gravidade.”.
4.1. Os advérbios “primeiro” e “depois” pertencem a que classe?
a. Advérbios de frase.
b. Advérbios de inclusão e exclusão.
c. Advérbios conectivos.
d. Advérbios relativos.
4.2. Qual é o modo verbal dos verbos sublinhados?
4.3. Classifica a oração “como se isso não bastasse”.
4.3.1. Classifica a palavra “se” quanto à sua classe e subclasse.
4.4. Substitui “com gravidade” por um advérbio de predicado e indica o seu valor.
5. “As mais assanhadas nesta peleja eram as de Tabor e de Carmel. O diálogo entre ambas, enquanto se agrediam, não podia ser mais violento.”
5.1. Refere o grau dos adjetivos “assanhadas” e “violento”.
5.2. Indica a função sintática de “as de Tabor e de Carmel”.
5.2.1. A que classes de palavras pertencem “As” e “as”?
5.3. Classifica a oração “enquanto se agrediam”.
5.4. O complexo verbal “podia ser” é composto por
a. Verbo auxiliar da passiva + verbo principal.
b. Verbo auxiliar dos tempos compostos + verbo principal.
c. Verbo auxiliar modal + verbo principal.
d. Verbo auxiliar aspetual + verbo principal.
6. Atenta em “És uma montanha mesquinha e triste e, por isso, Deus há-de votar-te ao esquecimento. Desaparece, pois, daqui!”.
6.1. Classifica as conjunções (uma é locução conjuntiva) “por isso” e “pois”.
6.2. O complexo verbal “há-de votar-te” é composto por um verbo auxiliar temporal + verbo principal. Esta afirmação é verdadeira ou falsa?
6.3. O pronome “te”, nesta frase, exerce que função sintática?
6.4. Em que modo verbal se encontra o verbo “Desaparece”?
7. Na frase “Deus não deseja a tua presença, pois o ato que vai praticar é tão importante que não pode compadecer-se com a tua pequenez e com a tua maldade.”, a conjunção “pois” tem valor conclusivo ou explicativo?
7.1. Identifica a oração subordinada adverbial consecutiva existente neste enunciado.
7.2. A palavra “que”, repetida nesta frase, pertence a que classes distintas?
8. Atenta no enunciado “Deus, que ultimava as Tábuas da Lei, ouvindo ecos da violenta discussão entre as duas montanhas, ordenou-lhes que se acalmassem e depois, falando para ambas, sentenciou:” e classifica as orações sublinhadas.
9. Na frase “Não sei porque teimam em manter essa querela se o escolhido por mim não será nenhum de vocês e sim o Monte Sinai, que merece a minha confiança e respeito.” identifica a oração subordinante, uma oração subordinada adverbial condicional e uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
10.Em “Mas porquê, Senhor?”, qual é a função sintática desempenhada por “Senhor”?
Correção:
1. Personificação.
2. Um dia, Deus anunciou – oração subordinante
que tencionava escolher uma montanha inóspita, esguia e desértica- oração subordinada substantiva completiva
para revelar a sua Lei.- oração subordinada adverbial final
2.1. modificador do grupo verbal
3.1. a
3.2. b
3.3. futuro do conjuntivo
3.4. predicativo do sujeito
4.1. c
4.2. gerúndio
4.3. oração subordinada adverbial comparativa
4.3.1. conjunção condicional
4.4. “gravemente”, valor modal
5.1. O primeiro está no grau superlativo relativo de superioridade e o segundo no grau comparativo de superioridade.
5.2. predicativo do sujeito
5.3. oração subordinada adverbial temporal
5.4. c
6.1. conjunções coordenativas conclusivas
6.2. verdadeira
6.3. complemento indireto
6.4. imperativo
7. explicativo
7.1. “que não pode compadecer-se(…)maldade.”
7.2. Na 1ª vez que surge trata-se de um pronome relativo, mas na 2ª é uma conjunção subordinativa consecutiva.
8. oração subordinada adjetiva explicativa e oração subordinada adverbial causal gerundiva
9. Não sei- oração subordinante
se o escolhido por mim não será nenhum de vocês e sim o Monte Sinai- oração subordinada adverbial condicional
que merece a minha confiança e respeito- oração subordinada adjetiva explicativa
10. vocativo
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