Neste blogue vou publicar contos integrais e outros textos, muitas vezes acompanhados de ficha de aferição de leitura. É essencial que os alunos leiam. Às vezes é necessário que os professores "eduquem" os gostos dos seus alunos e aqui ficam alguns materiais que irei publicando conforme puder. Além de textos integrais, podem encontrar centenas de fichas de trabalho e testes com soluções (os do secundário seguem a estrutura do exame nacional).
textosintegrais@gmail.com
Sei que há muita gente que consulta este blogue e utiliza os materiais aqui publicados, mas poucos deixam comentários e eu gostava mesmo de saber a vossa opinião... :-) textosintegrais@gmail.com
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Teste sobre Sermão de Santo António, com soluções
IA
Lê o texto que se segue e responde às
questões com frases completas:
1
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
|
Vós, diz Cristo, Senhor nosso,
falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra,
porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a
corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo
tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta
corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa
salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira
doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal
não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra
se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que
fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a
si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?
Ainda mal!
Suposto,
pois, que ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de
fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao
sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo
salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut
mittatur foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a
substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se
lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos.»
Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara?
Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a
cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo
o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida
prega o contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à
terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não
resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução
do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais
galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
Pregava Santo António em
Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como
erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o
santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe
não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António?
Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António
com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não
pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia?
Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a
prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia
naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente
o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças,
vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas
vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh
maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a
ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os
pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água,
António pregava e eles ouviam.
Se
a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro.
Vos estis sal terrae: É muito bom texto para os outros santos
doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os outros santos
doutores da Igreja foram sal da terra; Santo António foi sal da terra e foi
sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias
que tenho metido no pensamento que, nas festas dos santos, é melhor pregar
como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina,
qualquer que ele seja tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de
Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos
tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de
noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a
que mais necessária e importante é a esta terra para emenda e reforma dos
vícios que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a
terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o
sinto.
Isto
suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar,
e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto
que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles.
Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o
assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave
Maria.
Padre
António Vieira, Sermão de Santo António
|
1.
Atenta
no conceito predicável deste sermão: “Vós
sois o sal da terra”.
1.1.
A
quem se refere o pronome “Vós”?
1.2.
Interpreta
a frase.
2.
Explica
por que razão o orador inicia o seu discurso citando Cristo.
3.
A
terra está tão corrupta que a culpa pode ser da responsabilidade quer dos
pregadores, quer dos ouvintes.
3.1.
Explicita
a responsabilidade de uns e de outros.
4.
Refere
em que medida o Padre António Vieira se identifica com Santo António.
5.
Transcreve
do texto o excerto que mostra o objetivo do orador ao escrever este sermão.
6.
Justifica
a invocação que o autor faz à Virgem Maria.
IB
Num texto, entre 80 e 120 palavras, refere
em que medida as ideias do Padre António Vieira poderão ser consideradas
intemporais e sempre atuais, dando, pelo menos, um exemplo concreto.
II
1.
Lê
o texto que se segue com atenção e assinala as alíneas corretas para cada item:
1
5
10
|
Com
toda a sua vaidade e com toda a sua ambição, Vieira sabia-se portador de uma
mensagem importante para os seus compatriotas, mensagem que, desligada do seu
precário contexto histórico, ainda hoje continua importante. Intrépido, tomava
a defesa de grupos indefesos do império Português do século XVII: os
cristãos-novos em Portugal e os ameríndios no Brasil. Aberto e “ecuménico”,
concedia um lugar próprio a todas a raças e todas as culturas no seu Quinto
Império, que seria um mundo pacífico e unificado, mas não monótono ou
uniformizado. Acreditamos ─ talvez piamente, mas muito sinceramente ─ que, se
Vieira tivesse vivido durante algum tempo em terra islamita, onde reina “a
nefanda seita de Mafona”, também lá teria encontrado coisas respeitáveis e
teria excogitado meios apropriados para converter os muçulmanos com o mínimo
possível de sacrifícios culturais.
José Van Den
Besselaar, António Vieira: O Homem, a
Obra, as Ideias
|
1.1.
A
mensagem de Vieira que “ainda hoje
continua importante” (ll. 3) centra-se na ideia de que
a)
Portugal
voltará a formar um grande império.
b)
todos
os povos devem viver em harmonia e em comunhão.
c)
a
mensagem cristã ainda é importante nos nossos dias.
d)
os
tempos se repetem.
1.2.
A
palavra “intrépido” (l. 3) significa
a)
temeroso.
b)
insensível.
c)
destemido.
d)
simpático.
1.3.
Vieira
foi um “profeta” bem-sucedido, no sentido bíblico do termo, na medida em que
a)
tinha
visões e compreendia as vontades de Deus.
b)
revelou
um ideal e apontou um caminho para o seu povo.
c)
pregava
ao povo, mas este não o ouvia.
d)
previu
o futuro.
1.4.
A
“nefanda seita de Mafona” (l. 8) é
uma referência
a)
à
religião cristã.
b)
a
uma seita religiosa que adora o pão.
c)
a
uma seita da localidade portuguesa de Mafômedes.
d)
à
religião muçulmana.
1.5.
A
palavra “importante” (l. 3)
desempenha a função sintática de
a)
predicativo
do sujeito.
b)
complemento
direto.
c)
complemento
agente da passiva.
d)
complemento
oblíquo.
1.6.
A
oração “se Vieira tivesse vivido durante
algum tempo em terra islamita” (ll. 7-8) é uma oração
a)
adjetiva
relativa restritiva.
b)
coordenada
explicativa.
c)
subordinada
adverbial condicional.
d)
subordinada
adverbial causal.
2.
Liga
os elementos da coluna A a um elemento da coluna B:
COLUNA
A
|
COLUNA
B
|
1. A palavra “hoje” (l. 3) trata-se
2. Após os dois pontos, na linha 4,
3. Com a utilização da conjunção “mas” (l. 6)
4. Com a informação, entre travessões,
na linha 7,
5. Com a oração iniciada por “se Vieira tivesse vivido” (l.7)
|
a. o enunciador especifica a sua
posição sobre o assunto que vai expor.
b. de um advérbio de predicado que funciona
como um deítico espacial.
c. o enunciador concretiza com exemplos
a ideia exposta anteriormente.
d. de um advérbio de predicado que
funciona como um deítico temporal.
e. de um advérbio de tempo e um deítico
temporal.
f. o enunciador exprime oposição em
relação à ideia apresentada anteriormente.
g. o enunciador formula uma situação
hipotética.
|
3.
Indica
os processos fonológicos presentes na variação histórica das seguintes
palavras:
3.1.
lana> lãa> lã
3.2.
area> areia
III
SELECIONA UMA HIPÓTESE:
A)
Num
texto bem estruturado, entre 180 e 240 palavras, imagina que te dirigias a
todos os portugueses, pela televisão, e que querias dar dois importantes
conselhos, bem fundamentados, que fariam de Portugal um país melhor.
B)
Num
texto bem estruturado, entre 180 e 240 palavras, redige um discurso a proferir
na ONU subordinado ao tema “As alterações climáticas e os seus efeitos nefastos
para as gerações futuras”.
BOM TRABALHO!!!
A professora: Lucinda Cunha
COTAÇÕES:
Grupo I………… 100 pontos
1.1……… 5pontos (C=3+O=2)
1.2………….. 8 pontos (C=5+O=3)
2………………….8 pontos (C=5+O=3)
3.1…………..18 pontos (C=12+O=6)
4…………….…..12 pontos (C=8+O=4)
5………………… 10 pontos (C=6+O=4)
6……………….. 9 pontos (C=6+O=3)
|
B…………………….. 30 (C=18+O=12)
Grupo II …………….. 50 pontos
1……………………… 24 pontos
2……………………… 20 pontos
3………………………
6 pontos
Grupo III…….. 50 pontos (C=30+O=20)
|
Conteúdo = C Organização e Correção Linguística
= O
Proposta
de Correção:
IA
(questões e respostas retiradas, em parte, do manual Português 11º ano (Santillana)- com adaptações:
1.1.
O pronome “Vós” refere-se aos pregadores.
1.2.
Uma vez que os pregadores são considerados “o sal da Terra” e o sal evita a
corrupção, isto é, a degradação espiritual, aos pregadores caberá a função de
impedir a degradação moral dos fiéis que os escutam.
2.
O orador cita Cristo para conferir autoridade ao seu sermão, uma vez que as
suas palavras sempre serão sinónimo de verdade absoluta.
3.1.
Segundo o orador, tanto os pregadores como os ouvintes poderão ter
responsabilidade no facto de a Terra estar corrupta e enumera as várias
hipóteses, a saber: ou os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, praticam
ações distintas das palavras que proferem ou pregam-se a si próprios e não a
Cristo, isto é, defendem os seus interesses pessoais e não a doutrina de Jesus;
ou, por outro lado, os ouvintes não estão recetivos às pregações, ou preferem
seguir as ações dos pregadores em vez das suas palavras ou, por último,
preferem servir os seus caprichos e não a Cristo.
4.
O orador identifica-se com o referido Santo pois, tal como este não foi ouvido
pelos hereges em Arimino, na Itália, também ele sente que as suas palavras são ignoradas
pelos fiéis que o escutam.
5.
“para emenda e reforma dos vícios que a corrompem”
(l. 48).
6. Padre António Vieira pede à Virgem Maria a graça de o ajudar a proferir
um bom sermão. Sendo este dirigido aos peixes, o orador vê a ajuda divina como
mais relevante ainda.
IB-
resposta aberta
II-
questões 1 e 2 retiradas do manual Português 11º, Santillana Constância (com
adaptações)
1.1. b ; 1.2. c; 1.3. b; 1.4. d; 1.5. a; 1.6.
c
2.
1-d;
2-c;3-f; 4-a; 5-g
3.1. síncope
do “n”; nasalização do “a” e crase do “ãa”;
3.2.
Ditongação do “e”.
III-
Resposta aberta
sábado, 24 de novembro de 2012
Ficha sobre recursos expressivos- excertos tirados da obra História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
Sabendo que História de uma gaivota e do
gato que a ensinou a voar, de Luís Sepúlveda, se trata de uma obra
cujas personagens são animais, o recurso expressivo dominante é, sem dúvida, a
personificação. Descobre outros, associando os recursos no quadro a cada
excerto retirado da obra, todos da primeira parte (atenção- um excerto
pode conter mais que um recurso):
enumeração
metáfora perífrase ironia
comparação assíndeto eufemismo
adjetivação
|
1.
“Cento
e vinte corpos perfuraram a água como setas (…)” (I. 1)
2.
“Saborosos
arenques, Saborosos e gordos.” (I.1)
3.
Seriam
então umas mil gaivotas que, como uma nuvem cor de prata, iriam aumentando com
a incorporação (…)” (I.1)
4.
“O
gato grande, preto e gordo olhava para ele com atenção, sentado no peitoril da
janela, o seu lugar favorito.” (I.2)
5.
“Que
bolachas deliciosas, estaladiças e a saber a peixe!” (I.2)
6.
“(…)
ainda lhe mantinha sempre limpo o caixote de areia onde aliviava o corpo(…)”
(I.2)
7.
“O
leite da mãe era morno e doce, mas ele queria provar uma daquelas cabeças de
peixe que a gente do mercado dava aos gatos grandes.” (I.2)
8.
“Mas
Zorbas, que naquela altura era assim como uma bolinha de carvão, saiu do cesto.”
(I.2)
9.
“Quatro
semanas para preguiçar pelos cadeirões, pelas camas, ou para ir até à varanda,
trepar ao telhado, saltar de lá para os
ramos do velho castanheiro e descer pelo
tronco até ao pátio interior(…)” (I.2)
10.
“(…)
compreendeu que a maldição dos mares lhe obscurecia a visão.” (I. 3)
11.
“Kengah,
a gaivota de penas cor de prata, mergulhou várias vezes a cabeça, até que uns
clarões lhe chegaram às pupilas cobertas de petróleo.” (I.3)
12.
“Atiravam
ao mar milhares de litros de uma substância espessa e pestilenta que era
arrastada pelas ondas.” (I.3)
13.
“Viu
também alguns barcos movendo-se como diminutos objetos sobre um pano azul.”
(I.3)
14.
“Kengah
compreendeu que as forças não lhe iam durar muito e, procurando um lugar onde
descer, voou terra adentro, seguindo a serpenteante linha verde do Elba.” (I.3)
15.
“Kengah
olhou para o céu, agradeceu a todos os bons ventos que a haviam acompanhado e,
justamente ao exalar o último suspiro, um pequeno ovo branco com pintinhas
azuis rolou (…)” (I.4)
16.
“Zorbas
desceu rapidamente pelo tronco do castanheiro, atravessou o pátio interior a
toda a pressa para evitar ser visto por uns cães vagabundos, saiu para a rua,
assegurou-se de que não vinha nenhum automóvel, atravessou-a e correu na
direção do Cuneo, um restaurante italiano do porto.” (I.5)
17.
“─
Ai compadre! Está a ver o que eu estou a ver? Ai que gordinho tão lindo ─ miou
um.” (I.5)
18.
“Estendeu
lentamente a pata da frente, pôs de fora uma garra tão comprida como um fósforo
e aproximou-a da cara de um dos provocadores.” (I.5)
19.
“Nas
três casas, unidas por passadiços e escadas estreitas, havia perto de um milhão
de objetos, entre os quais há a destacar os seguintes: 7200chapéus de abas
flexíveis para que o vento os não levasse; 160 rodas de lemes(…); barcos
enjoados de tantas voltas que deram ao mundo; 245 lanternas (…)” (I.6)
20.
“Colonello,
Sabetudo e Zorbas observaram o corpo sem vida da gaivota (…) (I. 8)
Proposta de correção
1.
comparação
2.
adjetivação
3.
comparação
4.
adjetivação
5.
adjetivação
6.
eufemismo
7.
adjetivação
8.
comparação
9.
assíndeto
10.
metáfora
11.
perífrase
12.
adjetivação
13.
comparação
14.
assíndeto.
metáfora
15.
assíndeto,
eufemismo
16.
assíndeto
17.
ironia
18.
assindeto,
comparação
19.
enumeração
20.
eufemismo
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