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sábado, 4 de agosto de 2012

Mais uma fábula africana


As três verdades de Guinda
Por: PAOLO VALENTE


(fábula do Benim)

O conto transmite um ensinamento moral universal: a conveniência de dizer a verdade em todas as circunstâncias, custe o que custar. O apego à verdade é sempre garantia de liberdade.

Ninguém no mundo acreditaria se ouvisse dizer que uma hiena poupou a vida de um bode. Mas foi isso que aconteceu, no tempo em que o rei Pètépé decidiu dar em casamento a sua filha mais bonita. O rei fez tocar os tantãs pela aldeia inteira, para congregar todos os pretendentes. Quando os teve na sua presença, disse:

«Aquele que me trouxer a mais bonita jóia do reino terá a mão da minha filha.»

Era um feito praticamente impossível de conseguir. Para encontrar a jóia seria necessário caminhar por sete dias e sete noites, subir montanhas, atravessar rios e correntes. Porque só lá longe havia um ferreiro de reconhecida arte, que tinha a sua forja. Mas, apesar disso, Guinda, o bode, aceitou o desafio. E disse a todos os animais da aldeia que se poria a caminho à procura da jóia mais bonita. Todos os animais abanaram a cabeça em sinal de desaprovação. Preocupavam-se com a sua sorte e deram-lhe um conselho:

«Guinda, tu sabes bem que Prouka, a hiena, se encontra no caminho da tua viagem e o vosso encontro será fatal para ti. Nunca uma hiena poupou a vida a um bode… Deixa estar, resigna-te à tua sorte ou acabarás por ter um fim desagradável.»

Guinda escutou os conselhos dos outros animais, mas não desanimou. Amava demasiado a filha do rei!

«Se é só isso que me deve impedir», disse-lhes ele, «então farei a viagem.» E assim no dia seguinte, apenas o primeiro canto dos galos se ouviu no ar fresco da manhã, ele pôs-se a caminho para a aldeia do ferreiro. Depois de ter caminhado muito e de se encontrar já muito distante da aldeia, ao atravessar uma floresta muito densa o que os seus amigos animais previram aconteceu. De repente, encontrou-se diante de Prouka, a hiena. O bode parou de repente, cheio de medo, e pensou que nada tinha a fazer para escapar: nunca uma hiena tinha poupado a vida a um bode que encontrou no seu caminho! Prouka, ao ver o bode diante de si, ficou tão contente que deu alguns passos de dança.

«Quem te mandou», perguntou ela enquanto se lambia os lábios. «Foi o rei Pètépé», respondeu-lhe Guinda, a tremer como uma folha.

«É o rei que te manda?», retorquiu-lhe a hiena curiosa. Guinda repetiu que sim, sem entender porque é que Prouka perdia tempo a conversar. Mas, de facto, Prouka não mostrava ter pressa. Deu mais uma volta e disse, depois de ter pensado um pouco:

«Então, bode, se é verdade que te mandou o rei, diz-me três verdades e eu poupar-te-ei a vida.»

«Três verdades?», perguntou surpreendido o bode.

«Sim», confirmou a hiena, «diz-me três verdades e deixar-te-ei prosseguir o teu caminho.»

O bode pensou por um pouco e disse-lhe: «Em primeiro lugar, eu sabia bem que o nosso encontro me seria fatal, uma vez que nenhuma hiena poupa a vida de um bode quando o encontra no seu caminho.»

«É verdade», confirmou Prouka. Guinda respirou fundo e continuou: «Em segundo lugar, ninguém me acreditará se, de regresso à aldeia, eu contar que te encontrei e não obstante isso continuo vivo.»

«Bravo», disse-lhe a hiena, «é verdade, ninguém te acreditará.» Guinda viu que a hiena estava calma e divertida e esperava a terceira verdade. Encheu-se de coragem e disse-lhe:

«A terceira verdade é esta: ao vê-la e ouvi-la, senhora hiena, fico com a certeza de que você não está com fome. Penso que comeu bem e no seu estômago não há lugar para um bode forte como eu.» A estas palavras, Prouka abaixou as orelhas e coçou a cabeça: o que Guinda lhe dizia era verdade e ela naquele momento não pode senão admiti-lo e deixá-lo seguir o seu caminho. Guinda chegou à aldeia do ferreiro, que na forja com ferro e fogo lhe fez a jóia mais bonita do reino. Ele fez o caminho do regresso, durante sete dias e sete noites, para entregar a jóia ao rei Pètépé que, para surpresa de todos os súbditos, lhe deu a mão da princesa.

É por isso que, na aldeia, os anciãos dizem que é sempre melhor dizer a verdade, toda a verdade, ao preço de qualquer sacrifício.
In revista Além-mar

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