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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Teste sobre Sermão de Santo António, com soluções





IA

Lê o texto que se segue e responde às questões com frases completas:


1
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
          Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
          Suposto, pois, que ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos.» Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário.
          Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
          Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.
          Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos estis sal terrae: É muito bom texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra; Santo António foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que, nas festas dos santos, é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina, qualquer que ele seja tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto.
          Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António


1.    Atenta no conceito predicável deste sermão: “Vós sois o sal da terra”.

1.1.        A quem se refere o pronome “Vós”?

1.2.        Interpreta a frase.


2.    Explica por que razão o orador inicia o seu discurso citando Cristo.


3.    A terra está tão corrupta que a culpa pode ser da responsabilidade quer dos pregadores, quer dos ouvintes.

3.1.        Explicita a responsabilidade de uns e de outros.


4.    Refere em que medida o Padre António Vieira se identifica com Santo António.


5.    Transcreve do texto o excerto que mostra o objetivo do orador ao escrever este sermão.


6.    Justifica a invocação que o autor faz à Virgem Maria.



IB


            Num texto, entre 80 e 120 palavras, refere em que medida as ideias do Padre António Vieira poderão ser consideradas intemporais e sempre atuais, dando, pelo menos, um exemplo concreto.

II


1.    Lê o texto que se segue com atenção e assinala as alíneas corretas para cada item:


1
5
10
          Com toda a sua vaidade e com toda a sua ambição, Vieira sabia-se portador de uma mensagem importante para os seus compatriotas, mensagem que, desligada do seu precário contexto histórico, ainda hoje continua importante. Intrépido, tomava a defesa de grupos indefesos do império Português do século XVII: os cristãos-novos em Portugal e os ameríndios no Brasil. Aberto e “ecuménico”, concedia um lugar próprio a todas a raças e todas as culturas no seu Quinto Império, que seria um mundo pacífico e unificado, mas não monótono ou uniformizado. Acreditamos ─ talvez piamente, mas muito sinceramente ─ que, se Vieira tivesse vivido durante algum tempo em terra islamita, onde reina “a nefanda seita de Mafona”, também lá teria encontrado coisas respeitáveis e teria excogitado meios apropriados para converter os muçulmanos com o mínimo possível de sacrifícios culturais.
          José Van Den Besselaar, António Vieira: O Homem, a Obra, as Ideias


1.1.        A mensagem de Vieira que “ainda hoje continua importante” (ll. 3) centra-se na ideia de que

a)    Portugal voltará a formar um grande império.

b)    todos os povos devem viver em harmonia e em comunhão.

c)    a mensagem cristã ainda é importante nos nossos dias.

d)    os tempos se repetem.


1.2.        A palavra “intrépido” (l. 3) significa

a)    temeroso.

b)    insensível.

c)    destemido.

d)    simpático.


1.3.        Vieira foi um “profeta” bem-sucedido, no sentido bíblico do termo, na medida em que

a)    tinha visões e compreendia as vontades de Deus.

b)    revelou um ideal e apontou um caminho para o seu povo.

c)    pregava ao povo, mas este não o ouvia.

d)    previu o futuro.


1.4.        A “nefanda seita de Mafona” (l. 8) é uma referência

a)    à religião cristã.

b)    a uma seita religiosa que adora o pão.

c)    a uma seita da localidade portuguesa de Mafômedes.

d)    à religião muçulmana.


1.5.        A palavra “importante” (l. 3) desempenha a função sintática de

a)    predicativo do sujeito.

b)    complemento direto.

c)    complemento agente da passiva.

d)    complemento oblíquo.


1.6.        A oração “se Vieira tivesse vivido durante algum tempo em terra islamita” (ll. 7-8) é uma oração

a)    adjetiva relativa restritiva.

b)    coordenada explicativa.

c)    subordinada adverbial condicional.

d)    subordinada adverbial causal.

2.    Liga os elementos da coluna A a um elemento da coluna B:

COLUNA A
COLUNA B
1.    A palavra “hoje” (l. 3) trata-se
2.    Após os dois pontos, na linha 4,
3.    Com a utilização da conjunção “mas” (l. 6)
4.    Com a informação, entre travessões, na linha 7,
5.    Com a oração iniciada por “se Vieira tivesse vivido” (l.7)
a.    o enunciador especifica a sua posição sobre o assunto que vai expor.
b.    de um advérbio de predicado que funciona como um deítico espacial.
c.    o enunciador concretiza com exemplos a ideia exposta anteriormente.
d.    de um advérbio de predicado que funciona como um deítico temporal.
e.    de um advérbio de tempo e um deítico temporal.
f.     o enunciador exprime oposição em relação à ideia apresentada anteriormente.
g.    o enunciador formula uma situação hipotética.


3.    Indica os processos fonológicos presentes na variação histórica das seguintes palavras:

3.1.        lana> lãa> lã

3.2.        area> areia


III


SELECIONA UMA HIPÓTESE:

A)   Num texto bem estruturado, entre 180 e 240 palavras, imagina que te dirigias a todos os portugueses, pela televisão, e que querias dar dois importantes conselhos, bem fundamentados, que fariam de Portugal um país melhor.


B)   Num texto bem estruturado, entre 180 e 240 palavras, redige um discurso a proferir na ONU subordinado ao tema “As alterações climáticas e os seus efeitos nefastos para as gerações futuras”.


BOM TRABALHO!!!

A professora: Lucinda Cunha


COTAÇÕES:

Grupo I………… 100 pontos
1.1……… 5pontos (C=3+O=2)
1.2………….. 8 pontos (C=5+O=3)
2………………….8 pontos (C=5+O=3)
3.1…………..18 pontos (C=12+O=6)
4…………….…..12 pontos (C=8+O=4)
5………………… 10 pontos (C=6+O=4)
6……………….. 9 pontos (C=6+O=3)
B…………………….. 30 (C=18+O=12)
Grupo II …………….. 50 pontos
1……………………… 24 pontos
2……………………… 20 pontos
3………………………  6 pontos
Grupo III…….. 50 pontos (C=30+O=20)

Conteúdo = C Organização e Correção Linguística = O


Proposta de Correção:


IA (questões e respostas retiradas, em parte, do manual Português 11º ano (Santillana)- com adaptações:


1.1. O pronome “Vós” refere-se aos pregadores.

1.2. Uma vez que os pregadores são considerados “o sal da Terra” e o sal evita a corrupção, isto é, a degradação espiritual, aos pregadores caberá a função de impedir a degradação moral dos fiéis que os escutam.

2. O orador cita Cristo para conferir autoridade ao seu sermão, uma vez que as suas palavras sempre serão sinónimo de verdade absoluta.

3.1. Segundo o orador, tanto os pregadores como os ouvintes poderão ter responsabilidade no facto de a Terra estar corrupta e enumera as várias hipóteses, a saber: ou os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, praticam ações distintas das palavras que proferem ou pregam-se a si próprios e não a Cristo, isto é, defendem os seus interesses pessoais e não a doutrina de Jesus; ou, por outro lado, os ouvintes não estão recetivos às pregações, ou preferem seguir as ações dos pregadores em vez das suas palavras ou, por último, preferem servir os seus caprichos e não a Cristo.

4. O orador identifica-se com o referido Santo pois, tal como este não foi ouvido pelos hereges em Arimino, na Itália, também ele sente que as suas palavras são ignoradas pelos fiéis que o escutam.

5. “para emenda e reforma dos vícios que a corrompem” (l. 48).

6. Padre António Vieira pede à Virgem Maria a graça de o ajudar a proferir um bom sermão. Sendo este dirigido aos peixes, o orador vê a ajuda divina como mais relevante ainda.


IB- resposta aberta

II- questões 1 e 2 retiradas do manual Português 11º, Santillana Constância (com adaptações)

 1.1. b ; 1.2. c; 1.3. b; 1.4. d; 1.5. a; 1.6. c

2.

1-d; 2-c;3-f; 4-a; 5-g

3.1. síncope do “n”; nasalização do “a” e crase do “ãa”;

3.2. Ditongação do “e”.


III- Resposta aberta  

30 comentários:

  1. Este "teste"/ficha de trabalho é muito útil! Fiz todos os exercícios como estudo para um teste e achei-o muito bom. Obrigada! :D

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  2. Muito boa ficha Senhora Professora Lucinda, tenho vindo a procurar fichas deste tipo sobre os varias obras que podem sair no exame nacional de 2014 e esta já me ajudou bastante :)

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    1. Volta qd quiseres, Bruno, há aqui mt material à disposição e sempre com correção;-)

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  3. O seu trabalho é realmente notável, sendo por isso muito importante para os estudantes.

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  4. Muito obrigado por partilhar este teste com todos, de certeza que me vai ajudar no teste de amanhã.

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  5. Estou muito feliz pois encontrei tudo o que eu precisava, acredito que já me sinto capaz de fazer o teste na segunda feira.

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    1. Por norma, não se apresenta sugestão de resposta desses exercícios porque não há uma resposta certa: há inúmeras. Aconselho-o a escrever já que a prática faz o mestre.

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  7. Bastante util! Espero que me ajude para o teste de amanha! Obrigado!

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  8. Eu é que agradeço o seu comentário!Espero que o teste corra bem! Bom trabalho e boa semana!

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  9. Muito bom o questionário.Me ajudou a compreender muita coisa.

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  10. As respostas tão muito claras e muito bem estruturadas.
    Ajuda-me muito a estudar e a perceber as coisas para o teste de PT.

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  11. Está uma ficha muito útil! Um grande obrigada à disposição do seu trabalho no âmbito de nos ajudar a todos nós.

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    1. Muito obrigada, Inês, pelas suas palavras tão gentis. Fico feliz por ajudar.

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  12. Ficha de grande utilidade, obrigado por me ajudar.

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  13. Gostava que tivesse um exemplo para as composições apresentadas no teste, mas mesmo assim, está ótimo.

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    1. Grata pela sugestão. Tem muita razão, o tempo é que, às vezes, não chega para tudo!
      Bom Natal! Beijinhos.

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  14. O teste é, deveras, valioso e as perguntas ao de se provar úteis quando fizer o teste. Muito obrigado pela dedicação.

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